São muitos os problemas e as situações que nos foram referidas. Não é possível detalhar todas as questões, nem dar todos os exemplos. Abordamos os mais referidos e os mais sentidos, sem qualquer pretensão de se ser exaustivo.


Os sistemas são lentos!

Os utilizadores referem, na sua maioria, uma lentidão na utilização das aplicações disponíveis, apesar dos esforços desenvolvidos para tentar colmatar esta falha, com um grande impacto na prática clínica, com a consequente perda na qualidade do ato médico que se sente confrontado por vezes com o mau funcionamento de aplicações, incapacidade de aceder a informação e até impossibilidade de efetuar registos, o que se verifica em qualquer local de exercício da atividade, hospital ou centro de saúde. O resultado é uma redução de produtividade, que em alguns casos se torna incompatível com a prática clínica.

Muitas razões foram apontadas: obsolescência tecnológica de parte do parque de equipamentos, incompatibilidade entre as diferentes versões das aplicações existentes nas instituições e as novas aplicações fornecidas por entidades dependentes do ministério da Saúde, dificuldade na integração das aplicações existentes, seja por questões técnicas, seja por incapacidade de investir o necessário para o realizar. Obsolescência de aplicações e de plataformas. Um exemplo é a dependência atual, na maioria das instituições hospitalares, da aplicação SONHO, que se encontra obsolescente, estando a ser implementada uma substituição gradual pelo SONHO V2, tecnologicamente e funcionalmente mais adequado às necessidades atuais. Contudo esta migração tem sido lenta, dada a dificuldade de integração local com os diversos aplicativos institucionais, encontrando-se implementado em apenas sete hospitais, não se vislumbrando um plano de upgrade com um horizonte credível e recursos materiais, humanos e financeiros alocados para o resto da rede hospitalar. A decisão está entregue à casuística e muitos hospitais consideram que o seu orçamento não lhe permite assumir os custos de upgrade de hardware e de licenciamento.

Áreas críticas não estão cobertas.

Uma área tão crítica como a da Cirurgia de Ambulatório, que constitui um objectivo imperioso de desenvolvimento, não está dotada de soluções adequadas.

A saúde pública é outra área de cobertura deficiente. A informação clínica que existe nos vários sistemas de informação dos prestadores não é consolidada numa perspectiva da sua utilização para conhecimento da epidemiologia e necessidades em saúde da população.

Em muitas unidades não existem sistemas de gestão documental nem normalização processual.

Nestas áreas com cobertura insuficiente ou desadequada, o recurso a soluções de desenvolvimento próprio, seja por aquisição a empresas fornecedoras, seja por protocolos de colaboração com entidades como universidades, esbarra na ausência de um quadro de referência futura, questões orçamentais, ou dificuldades de interacção com as aplicações instaladas.

Os sistemas não são amigos do utilizador.

As questões de ergonomia e usabilidade não são o ponto forte das aplicações actuais. Estes aspectos são preteridos a favor de outras prioridades. Mas mesmo quando há mudanças positivas os utilizadores não são informados, nem preparados atempadamente, com impacto imediato na organização e rendimento do trabalho.

Esta preparação prévia é fundamental para a aderência e o sucesso das mudanças. Recentemente um grande hospital efectuou uma migração de sistema com sucesso, só possível porque foram exigidas condições ao sistema, que levaram um ano a cumprir e a operacionalizar, e só após estas estarem garantidas foi aceite a migração. E a migração foi acompanhada por uma operação de gestão da mudança envolvendo a instituição, os profissionais e os próprios doentes e familiares.

Mas não deveria isto ser uma preocupação do fornecedor? Ou deve considerar-se uma obrigação do utilizador?

Certamente que não é função dos sistemas suprir as deficiências de gestão e organização por parte dos utilizadores. Mas não é do interesse do fornecedor ajudar a suprir aquelas que tenham a ver com os sistemas de informação?


Baixa fiabilidade.

Todos anotam frequentes quebras de serviço, falhas de ligação, grandes tempos de inactividade. Realmente não há qualquer medição da performance e não é possível abandonar nesta matéria o domínio da subjectividade. A RIS (Rede de Informática da Saúde) teve melhorias significativas que por sua vez se reflectiram, mas em muito menor escala, no desempenho aplicacional. Possivelmente temos as mesmas causas que provocam a lentidão: inconsistência e diversidade de equipamentos e redes, limitações tecnológicas e limitações aplicacionais. A miríade de aplicações satélite sobrecarregam as aplicações de base que não estão preparadas para tal.


Falta de integração na informação e nas aplicações.

Em torno das aplicações de base gravitam um conjunto de aplicações específicas que não trocam dados entre si, ou trocam-nos deficientemente e obrigam a abrir inúmeras janelas em simultâneo e há registos duplicados que podem originar erros. O mesmo utente, na mesma entidade, uma ULS (Unidade Local de Saúde), tem dois PCE (Processos Clínicos Eletrónicos), o dos CSP (Cuidados de Saúde Primários) e o do Hospital.

As exigências de interoperabilidade não estão suficientemente desenvolvidas e não foram asseguradas atempadamente. Este facto é fortemente limitativo da possibilidade de gerir aplicativos de modo adequado.

Algumas instituições de suficiente dimensão tiveram de avançar por iniciativa própria com projectos desenvolvidos por universidades ou empresas privadas para colmatar estas situações. Pediram aos fornecedores e conseguiram. Logo é possível.

Mas o panorama nas de média e pequena dimensão é devastador.

A PEM (Prescrição Eletrónica de Medicamentos) é electrónica, está totalmente desmaterializada, e é uma boa melhoria. Mas são apontadas deficiências várias em muitos locais que reduzem as vantagens da PEM e a sua facilidade de utilização.

É necessária a desmaterialização dos MCDT’s (Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica), e incluindo a aquisição electrónica de dados sempre que tecnicamente possível. Para tal é necessária previamente uma normalização. Atualmente os dados dos MCDT’s viajam em papel e são transcritos manualmente para o processo clínico, sendo necessário recorrer à PDS (Plataforma de Dados em Saúde) para o registo.

Subsistem incongruências no RNU Registo Nacional de Utentes. É necessário implementar uma política de limpeza e actualização dos dados existentes, seja por deficiências da implementação, seja por falta de formação/informação dos médicos.

Falta protecção e confidencialidade da informação.

Na maior parte dos casos não existem logs de registo de quem acedeu aos sistemas, e até não é possível verificar se os dados foram alterados. Na verdade, não está garantida a integridade dos registos originais.

E se é certo que existe da parte dos utilizadores alguma negligência na observação de regras de segurança, também é verdade que os sistemas e aplicações não dispõem de medidas eficazes para ultrapassar esta questão.

Neste aspecto é fundamental a definição dos perfis de acesso e de quem pode consultar o quê e em que condições. É preciso que se entendam os diversos grupos profissionais, médicos, enfermeiros, farmacêuticos e outros, sobre estes perfis. Não são os sistemas que têm de definir. Alguém tem de definir e regular e os sistemas têm de cumprir, e o que for definido e regulado terá de ser válido em todos os domínios de Saúde, pública ou privada, ambulatório e internamento, Cuidados de Saúde Primários ou Cuidados Continuados. Tem não só a ver com a segurança, mas também com a boa utilização e com a integração da informação e a protecção dos dados.

Falta segurança, integridade e preservação da Informação.

Nenhum hospital possui um responsável pela segurança nem existem análises de risco. E plano B claro, acessível a todos, conhecido por todos, quanto à forma de atuar em caso de colapso dos sistemas, não existe. Não é por não haver boas práticas. Basta ir a uma das regiões autónomas, onde existe o Plano B e está acautelado o colapso. Basta ir a um dos hospitais que implementou uma boa gestão da mudança com a migração. Uma das coisas que se fizeram foi um Plano B, num dossier vermelho. O que fazer em caso de colapso.

É legítimo perguntar se existem backups dos dados em todas as instituições e se estes estão estruturados por camadas que dificultem o acesso indevido e a sua apropriação por terceiros. A CNPD lembra que a responsabilidade do sigilo profissional não é da instituição, é do médico! E alguém controla o acesso dos administrativos e dos informáticos à informação e dados clínicos sensíveis? Existem regras para o acesso remoto?

E empresas subcontratadas, alguém controla o seu acesso? E se não se controla, como se podem pedir responsabilidades? Estas questões estão asseguradas nos contratos?

A CNPD alerta quanto às necessidades de segurança da PDS Plataforma de Dados da Saúde, tendo emitido um parecer bastante completo para a sua autorização. Estarão asseguradas todas as exigências do parecer?


Falta formação, suporte, desenvolvimento e nível de serviço.

A insatisfação nestas matérias é generalizada. Há muita rotatividade nos serviços de suporte e desenvolvimento. O suporte não é proactivo, limita-se a reagir e com nível de serviço baixo.

Os sistemas são fornecidos mas não estão definidos SLA’s Service Level Agreements nem Métricas de Qualidade de Serviço, nem estão previstas obrigações nem penalidades caso falhem.

Os utilizadores querem resultados e não simpatia. Mas não é de simpatia que estamos a falar. Estamos a falar de investimento na relação com os utilizadores, com o seu envolvimento e considerando os seus interesses de pronto e eficaz apoio. Ou devemos olhar para este investimento na gestão dos utilizadores como um investimento a ser preterido a favor de outras prioridades?


Existem custos adicionais e desperdício.

Apenas alguns exemplos de uma longa lista.

São apontados custos e descontrolo na monitorização do cheque dentista, dificuldades no SISO Sistema informático de Saúde Oral e no SAPA Sistema de Apoio Técnico e Dispositivos. Os utentes ficam prejudicados no acesso. Os registos do SISO não podem ser lidos pelos médicos de clínica geral que devem acompanhar e verificar as situações.

E que se passa com a faturação dos hospitais às ARS’s (Administrações Regionais de Saúde) da hemodiálise? Muito atraso e muito valor financeiro pendente, por vezes de anos. Pode ser que o problema não seja tecnológico ou dependente dos Sistemas de .Informação, mas do ponto de vista prático carece de solução e atenção.